sexta-feira, 10 de julho de 2015

Querida avó, parabéns, hoje é o teu dia!

  Querida avó, não sei bem por onde começar. Tenho as ideias um pouco dispersas sobre a minha cabeça, mas vim aqui escrever-te porque não te consigo dizer isto de outra forma, pois a maldita doença de Azheimer enfeitiço-te e tu nunca mais saberás dizer o meu nome.
   Eu sei que a doença te apagou as células e as memórias dos momentos que passámos juntas, mas tenho a certeza que os tens bem guardados no coração, os sentimentos não se desligam assim do nada. Acho eu...
   Tenho a certeza de que tens guardado no coração quando me levavas ao café no carrinho de bebé e depois andavas lá a gabar-te da tua "Marianinha linda". Tenho a certeza de que te lembras de todas as vezes que ia dormir à tua casa (andar abaixo do meu :P) e víamos as novelas até às tantas.
   Tenho a certeza que te lembras de todas as (estúpidas) vezes em que não me deixas-te ir para a casa da Mónica e outras coisas que tu não me deixavas fazer, mas pronto. Desculpa se alguma vez falei mal para ti ou se te faltei ao respeito.
   Eu sei que tu ainda te lembras daquelas vezes de quando ías a Fátima a pé... Durante essa semana inteira eu faltava à escola porque ficava cheia de febre. Isso é que eram saudades a sério! Eu chegava mesmo a ter 40º graus de febre..!! Eu passava o dia todo a falar contigo ao telemóvel... eu acho que cheguei a ficar sem saldo. Ahah que saudades!
   Eu posso não demonstrar, porque sabes, tenho aprendido a ser fria com este assunto, porque senão, vou-me abaixo e tu não queres isso. Tu nunca gostaste que eu ficasse triste.
   Tenho saudades tuas, da pessoa que eras antes desta maldita doença se apoderar de ti. Apesar de algumas coisas, tenho saudades da nossa cumplicidade, dos segredos que só nós as duas sabíamos, das opiniões que partilhávamos... tenho saudades das nosss conversas, de te contar os meus "namoricos" de miúda e até achava piada, porque no inicio da doença ainda dava par ter uma conversa decente contigo e contava-te uma coisa e a seguir já não te lembravas. Confesso que achava piada, porque assim tinha a certeza de que não contarias a ninguém. Mas nessa altura eu era uma miúda e não tinha a noção das coisas. Hoje a realidade é outra e dói mesmo muito saber que provavelmente já não te lembras de nada desses momentos. É estranho, parece que foste enfeitiçada...
   Tenho tantas saudades dos nossos momentos de risota..!! Eu ria tanto contigo, com as tuas piadas! Tchi!!! Quando nós as duas nos juntávamos, era mesmo rir até chorar!
    Nem sabes o quanto me tento conter para não chorar, todos os fins-de-semana quando te vou ver ao lar. Ver-te ali sem forças, quase sem andares, sem falares quase nada... sem conheceres ninguém... Custa mesmo muito, porque tu eras uma pessoa muito ativa, quase que nunca paravas em casa.
    Eu odiava quando me acordavas às 9:30 da manhã para irmos ao café. Era horrível!! Eu queria dormir e tu fazias questão que eu fosse. Desculpa por algumas vezes não ter ido... eu sei que só querias a minha companhia.
    Atualmente, e como já disse, quando te vejo na cadeira de rodas faz-me confusão, precisamente porque tu nunca paravas quieta, andavas muito. E agora já não andas e estás muito parada. É triste de ver...
    Sei que esta doença nunca terá melhoras, mas sei que vais sempre lembrar-te de mim.


                                                                Beijinhos

Mariana Rosário

(10/07/2015)

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